segunda-feira, 25 de maio de 2009

Real forte expressa entusiasmo do investidor de fora, mas ameaça a exportação e o emprego

Com o dólar caindo feito pedra em todo mundo, já valendo US$ 1,40 contra o euro, vindo do patamar poucas semanas atrás de US$ 1,20, e quase R$ 2,00 no Brasil - depois de sair de R$ 1,50 em agosto, surfar a onda da grande crise e chegar a R$ 2,40 em abril –, está de volta à cena uma emergência que andava submersa devido ao baque do sistema bancário dos EUA e Europa, seguido da recessão global. 

Câmbio é a variável de ajuste das economias para compensar custos domésticos em desequilíbrio com os da concorrência, resultantes de salários, impostos, eficiência de transportes, acesso a fontes de energia barata. 

Real forte frente ao dólar, por exemplo, encarece os produtos exportados para mercados balizados pela moeda dos EUA, como a China e Japão, e facilita a entrada de bens importados caso faltem mecanismos tarifários para reequilibrar a concorrência. 

Não só o comércio internacional é afetado, já que a globalização é um fenômeno que também influencia a decisão sobre onde produzir. 
Países sem moeda depreciada e/ou custos internos baixos em relação a outras praças viáveis para a operação de plataformas industriais estão sujeitos a perder produção e investimentos para os mercados, digamos, “mais em conta”. 

O prejuízo do desajuste cambial, muitas vezes decorrente de decisões de outros países, portanto, é duplo: bate na produção interna e abate as exportações. 

O efeito da valorização do real sobre as exportações é conhecido amplamente. Em 2008, a mistura de economia aquecida e real forte despencou o superávit da balança comercial de US$ 40,1 bilhões em 2007 para US$ 24,7 bilhões, tendendo a minguar em 2009, não fosse a débâcle decorrente da quebra do banco Lehman Brothers. 

Pela ótica das contas correntes, que consolida o saldo comercial com o financeiro, porém, a deslizada das exportações vis-à-vis as importações bastou para colocá-las no vermelho - 1,8% de déficit (US$ 24,7 bilhões) sobre o PIB, contra superávit de 0,1% em 2007. 

Para este ano, há certeza de que tais dados não se agravam. Mais pela redução das remessas de dividendos de empresas estrangeiras, devido à recessão interna, e das importações, também por causa da desaceleração da economia. 

Mas continua volátil a expectativa para o saldo do comércio exterior. Será positivo, e mais dependente das exportações de bens básicos, como minérios, combustíveis, grãos e carne - commodities, enfim, cujos preços estão deprimidos, do que a China se aproveita para recompor estoques – que de manufaturas. 

Os negócios da China 

Produtos industriais têm relação direta com o câmbio, tanto pela inserção de partes importadas na cadeia de produção como porque a concorrência externa é enorme, a capacidade ociosa é brutal. 

E tão importante quanto tudo isso o governo chinês faz negócios da China para exportar. Administra a desvalorização do renminbi – uma moeda manipulada, embora, devido a dependência da China, país algum ousa acusá-la, nem os EUA - e aumenta os subsídios. Duro competir. 

O governo tem lado? 

Este é o cenário a que se sujeita o exportador nacional, agravado pela volta da tendência de apreciação do real - parte pela melhora da percepção global sobre a economia brasileira em relação ao que vai ao mundo. Mas boa parte também pela volta do dinheiro ocioso, tomado emprestado onde os juros são baixos e aplicados aqui, com a Selic a 10,25%. 

O real também sobe pelas apostas no mercado futuro de dólar na BM&F, hoje centradas no cenário de valorização. 

O constrangimento da política econômica se divide entre o que o ministro Guido Mantega chamou de “entusiasmo dos investidores com o Brasil” e o “fator de preocupação”, também em suas palavras, já que a valorização do real, admitiu, “atrapalha o setor produtivo, os exportadores, a agricultura”. Com que lado o governo vai ficar? 

Pedágio na entrada 

A questão é sensível e embaraçosa, pois implica mudanças, algumas polêmicas, que o governo em meio à campanha sucessória precipitada pelo presidente Lula não mostra disposição de tomar. 

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, alerta contra o “excesso de euforia”. O BC voltou a comprar dólares desde 8 de maio, mas está difícil segurar. Desde março já caiu mais de 12% contra o real. 

O problema é que quanto mais crescem as reservas, US$ 204 bilhões no último dia 21, mantidas as demais condições da economia, maior é a atratividade do país para o hot money externo. Logo surgirão pressões para tributar tais dinheiros. Hoje, é caso de pensar. 

Opções se estreitam 

As alternativas contra a volta do real forte, entendendo-se que a faixa pouco acima de R$ 2,00 até R$ 2,20 seria razoável, segundo a manifestação de exportadores, se estreitam. 

O BC começa a recear a queda mais agressiva da Selic, já que a inflação em doze meses até maio, medida pelo IPCA-15, não só continuou acima da meta anual de 4,5% como voltou a subir, passando de 5,4% em abril para 5,44%. 

A queda do dólar também reflete a menor aversão ao risco no mundo dado o senso de que a crise perde força, o que expõe os EUA à sua própria fragilidade. O ponto é que dólar fraco contém importações e muda a mão do comércio dos EUA com a Europa. E isso é o que eles querem.

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